Enredo:
“SOU NEGRO, SOU RAÇA, SOU VIDA...
SOU ABOLIÇÃO”
Nasci em solo escaldante, de um sol brilhante... Do ventre de minha mãe terra, vinha a força da minha vida. Neste solo cresci, e dele fui arrancado, sem deixar que me arrancassem as raízes.
De dentro da escuridão de uma caixa, não sabia para onde ia. Dias passavam e as dores cresciam. Sentia que estava cada vez mais distante do meu solo amado, da minha raiz fervente e da minha vida livre.
Eis então que chego ao meu destino.
Preso como um animal me fortifiquei através dos deuses e de meus ancestrais. Da minha esperança vinham forças e um novo mundo me foi apresentado. A correntes fui preso, em troncos fui amarrado e, a dor que em minha pele ardia, me fazia sonhar com a vida em minha terra gentil.
Em minhas danças e cantos, exaltava meus desejos e, como em um transe, via o dia em que novamente voaria em um céu infinito. Até o dia em que senti novamente o sabor da vida livre...
Meu nome nasceu desta história.
Vi nascer em trilhos, o desenvolver de uma outra vida. Pessoas indo e vindo em um mundo luxuoso... Eram reis e rainhas, príncipes e princesas que desfilavam naqueles trilhos...
E assim, doce como o mel que me adoçava os dias cheios de amargor, contemplei a existência dos meus vizinhos. Vi crescer seu comércio e vi crescer a vida.
Dancei nos arraiás e com suas iguarias saciei minha fome.
Nas noites comemorei...
Viva Santo Antônio, São João e São Pedro!
Embalado ao ritmo das batucadas, passei dias e noites entre versos e prosas. Pelas ruas desfilei e, como em um delírio, cantei, dancei e me encantei.
Sou negro... Sou raça... Sou vida... Sou “Abolição”.
MARCIO PULUKER
CARNAVALESCO